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Li recentemente “Memórias de Minhas Putas Tristes”, livro simples, agradável e genial. No livro, a
personagem principal, um velho escritor solitário, se entrega pela primeira vez
aos mistérios e delicias de amar alguém aos 90 anos, quando “não se tem mais
nada a perder”, quando o risco aparentemente é menor.
Amar realmente é um grande risco
que corremos. Podemos jurar amor eterno hoje, acreditar que é pra sempre e
amanhã tudo pode acabar: a pessoa pode deixar de te amar, pode deixar este
mundo...
Não há garantia alguma e isso por vezes nos apavora. Algumas vezes, em resposta, criamos armaduras e não nos deixamos envolver. Outras, mesmo nos envolvendo, alimentamos a ilusão que podemos controlar este risco e passamos então a querer controlar o outro. É como se, de alguma forma, ao controlarmos as ações do outro conseguiremos controlar seus sentimentos e vontades. Quanta utopia...
Sempre fiquei impressionada como
todas as pessoas são vulneráveis quando o assunto é amor. Até mesmo algumas que
considero mais maduras e serenas se comportam de forma surpreendente quando o
assunto é o relacionamento amoroso. Enfatizo aqui o amor romântico entre um
casal, porque talvez seja onde estes medos e inseguranças se manifestem de
forma mais intensa, contudo, acredito que nosso comportamento pode ser bem
semelhante quando se trata de outros relacionamentos, como as amizades,
relações entre pais e filhos, etc.
Muitas vezes, a necessidade de se ter controle
e segurança nos faz agir de maneira impulsiva e incoerente. O fato de querer
garantir que o outro nos ame sempre e para sempre nos faz perder a magia e a
leveza que o amor pode nos oferecer.
Quando que me pego tentando
controlar o outro, tento decodificar este sentimento para poder transformá-lo. Em
primeiro lugar, é necessário se colocar em posição de igualdade em relação ao
outro. Se sentir digno do amor que recebemos é essencial para retribuirmos com
a mesma pureza e genuinidade. A culpa, se sentir pior que o outro, não
merecedor deste amor, não irá nos fazer pessoas melhores e nem nos fará agir de
modo melhor. Pelo contrário, só causará mais conflitos e nos levará a mais
ações que boicotem nosso bem estar e felicidade, gerando consequências diretas
na outra pessoa. Também é importante notar se não estamos nos sentido
superiores de alguma forma, pois se assim o fizermos, iremos manifestar isso em
nosso comportamento e mais uma vez será impossível atingir um estado de ternura
e afeto mútuo.
Além disso, não devemos entender como
sinal de rejeição qualquer atitude do outro que é diferente daquilo que
esperávamos. – afinal, como pensamos que
podemos controlar tudo, temos predefinida a listinha de “reações esperadas”. O
outro, assim como nós, é um ser humano complexo e que possui questões e
angustias próprias. Devemos exigir respeito sempre, não devemos nos rebaixar ou
nos deixar ser agredidos. Porém existe uma distância enorme entre uma agressão
e um comportamento que não é exatamente o que esperávamos.
Por último, e quem sabe a parte
mais importante deste exercício pessoal, é preciso
encarar os fatos. Realmente não há
garantias. Tudo pode dar errado. E ai? Não
vale a pena amar e ser amado? Claro que vale. Vivemos envolvidos na “cultura
da vitória”. Algo só compensa quando um padrão estabelecido de sucesso é
alcançado. Se lutarmos e falharmos é nos dado um titulo oficial de perdedor, de
coitado. Em outro livro que li há poucos dias, a autora diz que deveríamos
fazer a seguinte pergunta antes de tomarmos um risco: “o que eu faria que ainda
que eu falhe terá valido a pena?”.
Entretanto, geralmente nos perguntamos: “o que eu faria se soubesse que
não iria falhar?”... Perguntas semelhantes, no entanto com respostas que nos
levam a atuações bem diferentes. Como falei no último texto (leia aqui), é
preciso ter coragem para viver sob incertezas. O processo de nos entregar e
conseguir amar com plenitude requer perceber que ser feliz não é uma questão de
controle. Passa-se muito mais por aceitar a falta dele.
Provavelmente, nunca aprenderemos
a lição de forma completa e definitiva. O amor será sempre um constante recomeço
repleto de descobertas, e, acima de tudo, será sempre um risco a ser corrido...
Mas fico me perguntando se existe algo neste mundo que nos torna mais humanos que sonhar e se deliciar com essa face desconhecida do amor?