Um dia desses, no casamento de
uma amiga querida, o celebrante fez a seguinte reflexão direcionada aos noivos
(não exatamente com essas palavras, claro): “Aproveitem muito o dia de hoje,
com certeza será um dia que vocês guardarão para sempre no coração e na memória.
Dias como esses são muito importantes, mas não se esqueçam, a nossa vida
acontece na rotina, nos dias comuns”.
Algo que parece tão óbvio me fez
pensar como passamos o tempo todo em busca de acontecimentos incríveis e singulares
e, dado isso, acabamos nos esquecendo de viver a rotina, o comum. Atualmente
noto que há um grande medo assolando o ser humano, o de ser uma pessoa comum.
Ser um profissional comum, ter uma família padrão, alegrias e tristezas
normais...
É necessário viver momentos
incríveis e realizar proezas a todo momento, caso contrário para que serve essa
vida? As redes sociais, com toda certeza, agravam esse fenômeno. Como a minha
volta todos amam o trabalho, fazem a viagem do sonho, têm uma família perfeita,
são emocionalmente equilibrados e só vivem dias espetaculares – mesmo que para
isso glamourizem a rotina ou até mesmo o sofrimento – quem seria eu para ousar
viver uma vida comum? Provavelmente, um fracassado.
Reconheço que é delicioso e até
mesmo difícil de explicar o que sentimos quando nos casamos, fazemos a viagem
dos sonhos, somos promovidos no trabalho ou alcançamos qualquer feito
importante para nós. Trata-se de uma mistura de bons sentimentos para qual não
existe nome. Entretanto, isso não é o que acontece na maior parte dos nossos
dias, aqueles corriqueiros, de lutas e pequenas conquistas. A vida real é feita
da rotina, da correria do dia a dia, dos momentos de tristeza e mau humor, das
angústias acerca de nossas escolhas, e claro, das “pequenas grandes alegrias”.
Alegrias essas que nos arrancam um sorriso verdadeiro e, por milésimos de
segundo, nos fazem esquecer da felicidade do futuro. Pode ser um pedacinho bonito do caminho até trabalho, um encontro com as amigas, um elogio sincero ou um
beijo carinhoso de boa noite.
Eu almejo sim batalhar pelos meus
sonhos e viver intensamente o contentamento de suas realizações. Pois como o
celebrante falou, esses instantes de glória são importantes, e, muitas vezes, inesquecíveis.
Contudo, espero ter sempre a consciência do que a vida realmente é feita. Não
quero sentir angústia ao final de cada um dos inúmeros dias comuns, nem estar
sempre pensando no futuro ou ainda necessitar viver eventos magníficos para me
sentir plena. Quero ousar ser feliz nos dias ordinários, em que nada e, ao
mesmo tempo, tudo acontece. E quero além disso atrever-me a me sentir completa
e em paz com essa felicidade.
Há uma frase por aí que diz: “que a felicidade vire rotina”
acho que prefiro a versão: “que a rotina vire felicidade”.